quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Café amargo e pão com manteiga de avião.

Fiz-te rock e fantasia.
Fiz-te santo, bicho, cria.
Ah toda aquela melancolia, que eu não soube explicar...
Fiz-te imortal, cadáver e sonho. Fiz-te mestre e te fiz dono naquele reino maluco onde cavalos corriam por todos os lados, de tal maneira afobados que era bonito de se ver...
Mas eu também te fiz guerreiro...
E de tempos em tempos eu roubava sua arma pra caçar...
E eu também te fiz donzela, de vestido rodado e prendada.
Presilha no cabelo e roupa engomada. Coração forrado para amar.
Fiz-te moleque e vadio. E armei arapucas contigo, quando a gente saia pra pegar passarinhos e roubar frutos do vizinho, e conversava baixinho de noite para ninguém escutar...
Eu fugi na sua cabeça e por mais tempo do que pode ter parecido. Naquele seu se jogar as festas mais ridículas, enquanto eu servia na guerra e olhava vidas serem perdidas.
Eu também te fiz caubói, e observava a sua mão no pôquer. Fui eu quem te comprou cigarros quando todo seu dinheiro tinha sumido no jogo, e eu bebi contigo o melhor gim da minha vida e aquela foi a minha noite mais querida, pois dormi na estalagem no balcão do bar ao seu lado. Mas quando você acordou, eu já não estava mais lá.
Eu te fiz piloto, e costumávamos voar por toda a Terra em menos de 24 horas, bebendo leite e furando nuvens a torto e a direita.
Ah, mas eu te fiz alquimista, e inventamos uma formula mágica digna de qualquer prêmio e com ela sumíamos para outra dimensão distante, onde camelos usavam óculos e andavam em suas duas patas traseiras e faziam suas experiências cientificas em humanos domesticados.
Eu te fiz escritor e ídolo. Mestre, duende, Mickey Mouse...
Lemos juntos contos aterrorizantes e por eles perfuramos almas nas noites de acampamento, assando marshmallow na fogueira, enquanto os outros escoteiros morriam de medo.
Eu também te fiz atleta e artista, e também um grande admirador da arte urbana.
Eu esperei seu trem na estação, só pra te ver chegar, e fui eu quem te levou lá, quando era hora de partir.
Ah minha alma, eu te fiz tudo. E pra mim eu só peço um escudo. Por favor, não me deixe sair.