quinta-feira, 31 de julho de 2008

Silêncio.

Ecoava a gargalhada no castelo sombrio...
Mas não era da sala de jantar que ela vinha.
Nem dos quartos, nem cozinha.
Não lhe achavam o dono em lugar algum.
A gargalhada ecoava no chão sombrio,
Mas ela não vinha do telhado ou do jardim.
E era aquele um som muito ruim,
Mais azedo que o gosto amargo do rum.
Mas ecoava uma gargalhada no castelo sombrio.
E ela não vinha do sótão, nem do porão,
Não vinha dos calabouços, nem do alçapão.
A gargalhada não era mais que um jejum...
Ecoava o azedume no castelo sombrio.
Ainda me congela o comentário,
O travesseiro abriga o inferno imaginário
Como se o som se propagasse ad libitum.
Ecoava a gargalhada no castelo sombrio,
Mas os anos não tardaram, isso é sabido.
O terror deu lugar a um som fluido.
E o escárnio não rasgou sono nenhum.
Ecoava a gargalhada... O som sombrio.
Mas o castelo firme esteve em sua constância,
E o riso de assustar calou a ânsia
Pois ninguém mais ousou submeter-se ao incomum.
Eclodia a gargalhada no castelo sombrio
E aquele som ainda ecoava “eco, eco...”.
(as paredes cinzentas o refletiam, seco.).
“-Bastou o riso para espantá-los, um a um”.
E o castelo assim mantinha-se... Sombrio.
E não voltaria a abrir aquelas portas,
As pinturas pendiam nuas, semimortas,
A solidão mostrou as caras no apicum.
Ecoava a gargalhada, mas se esgotou no sombrio
E hoje o motivo do riso silencia.
- Essa infalível morte já se anuncia -,
Diabólica, o tempo calou seu temível lundum.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Futuro do presente, num passado mais que distante.

" (...) E no muro de pedra cinza, ainda se destacavam as tímidas palavras apagadas pelo tempo. Eram elas: "E se ainda quiseres adentrar estas terras, mortal, é melhor que deixes esta tua pretenção do lado de fora desse portão."

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---E chegará, um dia. O dia chegará em que o passado será ainda mais diluído do que a lembrança, a lembrança se confundirá com a névoa e a névoa se dissipará, enfim, numa tarde quente. Chegará o dia em que duvidaremos se tudo realmente existiu. Sim, e será um alívio. Eu não me lembrarei mais dos cheiros e você se esquecerá dos gestos. Seus cabelos serão neutros na multidão e minhas palavras, vazias. Chegará.
---Você passará por mim na rua e eu na o verei, será como todos. Nossos filhos (se é que teremos filhos) não se conhecerão e eu não estarei no dia de seu casamento. Sim, será terrível. Eu vou me esquecer de sua risada, de sua voz. Você ira se perder em outras gentes... Quem serão? Eu não sei...
---Eu não vou te ver sorrir, você não me verá morrer. Não enxugarei suas lágrimas, você não me abraçará. Não gostarei mais das suas roupas, você nem saberá das minhas. Não adivinharei seus pensamentos, você não me verá os dentes. Você não saberá de mim. Eu me esquecerei de você.
---E as conversas? Que conversas?
---E as tristezas? Já são outras.
---E o amor? Virou neblina.
---E as cabeças.
---Chegará esse dia, é um fato. Chegará, e não sei se vai ter volta. Se eu morrer, seus olhos estarão fechados. Se eu morrer, você nem vai saber... Eu jurei! Que foram essas promessas? Você falou e disse tudo muitas vezes. Ainda agora me recordo das palavras: “E o amor?”...
---Chegará sim, irá fechar o ciclo. A tragédia balsâmica do tempo. Ah, o tempo!
Eu não o vi passar, você viu? Eu não sei... Você lembra? Eu não.
---Eu não lembro dos sorrisos, das memórias... Tudo é como em meus tenros anos: é confuso, é negro, é etéreo. È tudo marrom.
---Você foi e eu fui também. Ainda somos? Será que por debaixo de todos esses panos tudo continua como noites alaranjadas e sorrisos sinceros? Sinceros... Minhas confidências, suas dores... Era tudo igual. Todos os tijolos de um prédio já formado. Tudo meticulosamente calculado. Tudo e nada. Você com ela... Já agora tanto faz.
---Mas que ponto triste! Ponto. Já agora tanto faz, disse há pouco. Quando o tal dia chegar, nem me darei por ele. Ele chega todos os dias, devagar. Daqui a cinqüenta anos, esse texto será o mesmo, minha escrita será tremida e você pode nem mais existir. Daqui a cinqüenta anos, cinqüenta anos terão passado. Eu não saberei quem você é, e você se esquecerá de mim. E esse dia vão ser todos, tudo será imóvel.
---Nos meus olhos, nos seus olhos... Por Deus! Era tudo a mesma coisa... .




" Largue-as, ou não entrarás - Ele respondeu.".