quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Epifania.

--- Ela me disse “adeus” e foi. E o que eu sabia dela não voltou jamais, nem mesmo durante as poucas palavras posteriores, nem mesmo nos frios desejos de felicidade. E agora eu temo. Pois algumas de minhas despedidas voltaram atrás, mas não sei quantas mais eu poderei conter. E logo eu serei toda despedidas. Eu sei que serei toda resumida num eterno gesto de adeus, num abanar de lenços brancos, num litro d’água que escorre de olhos tão sinceramente comovidos. Mas até quando? Nunca antes tudo me pareceu assim tão claro. A certeza me abala, mas não me impede. E certeza é algo que, de fato, é inegável.
--- Em toda a minha vida, foram poucas as vezes que a certeza me visitou com suas confianças e, nestas tais vezes, não errou em nada que previu. E por isso eu temo. Pois eu estou certa que o “adeus” se aproxima, seja de um lado, seja de outro, ele vem. Silencioso com sua negra capa a farfalhar sinalizando sua chegada. O vento sussurra que eu devo estar alerta mas, vento, digo à ele, que eu posso fazer? E ele sabe que nada, mas se cala. O vento, também ele, teme por mim... Deus! O que será que me aguarda tão maleficamente escondido por dentre as paredes desse tempo que não passa, que congelou, que se arrasta... Até o tempo! E isso me surpreende... Até o tempo sucumbiu. E que sou eu diante dele? Nada. E que sou eu diante do que me aguarda? Presa. Deus! Ajuda-me, se puderes, mas não podes e eu bem sei.
--- Fui tola, fui ingênua, fui sonhadora e caí. Eu caí, como um pássaro que subitamente perdeu as penas, como um nada que não merece voar. Como alguém que cai subjetivamente em esquecimento. Em esquecimento, esqueceram-me.

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