sábado, 17 de novembro de 2007

Fragmento de um dicionário das pequenas coisas cotidianas.

Incredulidade. A arte de não acreditar nas coisas apresentadas diante dos olhos pode ser considerada loucura ou dispersão. Na melhor das hipóteses, os dois conceitos unem-se de tal forma que a separação é improvável. Uma pessoa ímpia alcança tanto o mais alto dos prazeres, quanto o mais funesto temor. Normalmente o intervalo entre as duas situações é mínimo. E a sensação de queda, inevitável.
Fatalidade. Por que por mais que os atos possuam donos, os donos dos donos dos atos divertem-se a valer com suas marionetes. Na teoria do fatalismo indiscutível, a culpa nunca cai sobre os próprios ombros. A semelhança do conceito com a palavra “fatal” não é uma leve coincidência, mas sim uma brincadeira macabra de fonemas e sons. Os dicionários são livros temerosos... Ainda assim, seu conjunto é fascinante! Algo é fatal quando é irrevogável, mortal. Uma situação é aberta à fatalidade quando o seu desfecho é funesto.
Cuspe. A secreção tem lá suas vantagens. Normalmente, porém, vem associada a termos pejorativos. Quando não por somente uma das partes, por todas elas. O ato de cuspir significa expelir o indesejável. Inúmeros sinônimos podem ser citados para suas expressões. A idéia geral é de nojo.
Cicatriz. A marca pode ser vista, ou não. O importante em sua explicação é a diferença que jaz entre uma cicatrização completa - onde a cicatriz é omitida - e a incompleta - onde o sinal marca o ferimento anterior, ainda não de um todo recomposto -.
Chuva. Água caída em gotas das nuvens.
Cinza. Cor.
Sorriso. Seguido ou não de risada, consiste no ato de mostrar a arcada dentária com o objetivo de demonstrar aprovação a um ato, ou situação decorrida. Sincero ou não, queima determinado número de calorias. Não é aconselhado em fotos. Não deve ser repreendido. É visto com mais freqüência em crianças. Velhos não sorriem, por conta da falta de dentes.
Dor. Sentido desagradável que serve como sinal de aviso. A dor pode ser psicológica, ou não. No caso da dor física, determinada parte do corpo, que sofre um machucado, dói para avisar ao corpo de seu estado. Assim, faz com que as atenções do sistema sejam voltadas para aquela determinada parte, visando sua melhora. No caso da dor psicológica, a única parte do corpo que realmente sofre é o coração e, embora seja acreditado assim, tal dor não ocorre de maneira metafórica. A situação toda se dá da seguinte forma: pense no coração como uma rosa vermelha murcha, e na dor como uma robusta mão que aperta a rosa. Esse aperto dói. Não é metafórico e, se queres saber, nem tão psicológico assim...
Cotovelo. Peça de ligação.
Ponto. O fim. Sinal gráfico que indica o término de uma oração, ou frase. Pode ser também o ponto de ônibus, mas isso não vem ao caso por aqui.
Fim. O final de uma situação, ou caso. O adeus. A partida. Ato de terminação. Finalizar. Normalmente escrito com letras bonitas no final de contos de fadas, onde a história, de fato, nunca termina.

FIM
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