sexta-feira, 21 de março de 2008

Doce Ella.

---Ela não é um bom dia, ela nunca será um bom dia. Ao acordar, posso desejá-la ardentemente. Nada duraria, ou se faria importante, pois na hora de dormir, desejarei nunca tê-la conhecido.
---E ela não é um bom final. É a única que me corta a língua... Ela é... .
---Aquilo tudo foi um ato impensado. Esqueça. Não adianta viver do passado, o passado morreu. Foi por muito menos de cento e sessenta passos. Mais, muito mais, de setenta e dois - Se ando dormindo e perdendo a cabeça em lugares perigosos por demais, isso nada tem a ver com você -. Quem vive de passado é museu. E você deve tentar esquecê-la. Faça-o já, pois eu já o fiz. Ela não é um bom dia, nunca será.
---Nada mais vai importar. Foi assim o seu desejo. Ninguém mais a viu. Era uma altura tremenda, e ela sabia disso. Ela sabia disso tudo, havia calculado os mínimos detalhes. E dois copos de qualquer que seja a bebida não elevariam minha cabeça à altura em que ela estava. Foram menos de cento e sessenta passos. Mais, muito mais de setenta e dois.
---E ela caiu lá de cima. Tão devagar como cai uma pena. Foram incontáveis os segundos que levaram para ela bater no chão. Foram infinitos os momentos que seu cérebro recordava, a fim de dar a ela uma retrospectiva da vida que estava por terminar. Foram poucos os gritos, muitos os aniversários. Duas casas. Três irmãos. Um diário por terminar. Um cão gordo que ficaria para alimentar. Era muita coisa, mas já era tempo de dar um fim.
---Eu não sabia. Não sabia que ela estava infeliz. Que faria? Eu não sabia... Você estava longe, há muito tempo que estava. Para você ela não ligaria. Mas eu morava a dois quarteirões dali, e ela não me ligou. No celular dela, meu número para discagens rápidas era o 2. E ela não me ligou. Não...
---Três horas depois, irreconhecível numa mesa de necrotério, me avisaram do ocorrido. Ela havia acabado ali. O que sobrara, estava roxo. Seu rosto, roxo... E debilitei-me. A noite toda na eternidade. A noite toda não passou ainda... Não se incomode em oferecer-me seus entorpecentes terrenos. Acabarei por voltar mais tarde.
---E é por isso que você deve tentar esquecê-la. Faça-o, pois eu já o fiz. E nem três copos da bebida mais forte me elevariam a altura da qual ela caiu. Eram muito menos de cento e sessenta passos. Mais, muito mais, de setenta e dois.

3 comentários:

André Soares disse...

Bom, quando estou claramente desocupado fico vagando aí pelos blogs alheios, venho sempre aqui no seu, porque cada vez que leio um de seus textos tiro deles informações muito ricas e construtivas, e hoje não foi diferente...Adorei muito o texto!
Não o entendi plenamente, até porque ninguém além de nós consegue compreender e usufruir dos mesmo sentimentos que nos passa pela cabeça ao escreve-los,
mas achei brilhante o texto, como todos os outros.
Continue escrevendo mais, eu adoro vir aqui. :~

Ps: quanto ao que você disse, tenho realmente postado muito, estou passando por um período fértil, e posto em média um a cada 2 dias, rs.

silencio disse...

Gostei disso aqui: "Foram poucos os gritos, muitos os aniversários"... deu um calafrio xD

Simples e sombrio na medida certa... em quem será que você está pensando? :]

;***

Unknown disse...

Bem nao vou escrever nada como os outros comentarios já que nao sou bem...hmm.. um cara das palavras...
Porem sendo sincero, estou realmente impressionado com a sua habilidade de escrever, nao sou uma pessoa que ler muito porem acho que esse seu texto esta realmente bom...Parabens prima queirda voce realmente me surprende(auhauhauah). Gostei muito do texto mais uma vez Parabens, sempre soube que voce era uma pessoa culta porem nao a esse ponto... BOa Sorte na vida Prima voce merece