terça-feira, 6 de maio de 2008

Passando uma noite (levemente desequilibrada) fora de casa.

---Certo, concentre-se. Acalme-se. Ele não irá achá-la aqui. Certo, quantas fichas você tem? Duas. Então não as use ainda, calma, você ainda não tem pra quem ligar... Vamos nos localizar: Cruzamento da “Dezoito de novembro” com a “Marechal Duvelino”. Que horas tem? Meia noite e trinta e cinco. Então mantenha-se abaixada. Talvez se você se levantar um pouco, só para ter certeza.... Não! Calma, a cabine telefônica é um bom esconderijo temporário, não vá desperdiçá-lo. Então vamos voltar tudo. Recapitular: Você tem duas fichas telefônicas e nenhum dinheiro. Ele pegou a sua bolsa com seu celular e tudo dentro, então ele sabe onde você mora. Você não poderá voltar para lá hoje à noite. Mas você havia chamado os policiais, certo? Por que eles não apareceram? Ah! Não foi propriamente uma invasão. E você também sabia que andar por aquelas bandas era pedir pra morrer, e você está viva. Ótimo, a primeira boa notícia!
---Mas o que diabos ele queria? Disse algo sobre um diário, eu não escrevo diário. Não... Talvez não fosse o meu diário, eu acho que ele era do governo. Não, talvez fosse um detetive contratado... E queria saber o que? Pára! Não estamos aqui para fazer devaneios sobre a profissão do sujeito. Devemos achar um jeito de escapar. Está muito tarde, todos devem estar dormindo agora. É muito tarde para ligar para alguém... Então abaixe-se! Deus! Quantos graus devem ser lá fora? Que frio! E ninguém passa... Que rua deserta!
---Não... Espere... Talvez ele tenha me visto entrar aqui. É! Talvez ele só esteja me esperando sair, e então me matará. Deus! Deixa de ser idiota. Se ele estivesse aqui para te matar, já o teria feito. Mas parando bem para pensar, ele não teve realmente uma chance, quero dizer, eu realmente corro bem. Mas ele não estava tão distante... Sim. As chances de ter me visto entrar aqui são consideráveis. E se ele me viu, deve estar chamando mais gente, deve estar armando uma emboscada ainda maior para mim! Fui estúpida! Caí como uma débil, entrei num lugar que só tem uma saída... E ele deve ter posto alguém para me vigiar na esquina. E deve ser um anão, pois não consigo vê-lo.
---Ah! Como vou explicar isso, eu nem fiz nada, não conheço, nem lhe vi o rosto. Não! Eu te darei o diário, te darei dois diários, se o senhor quiser assim... Espere. Não se desespere ainda, talvez ele não quisesse VOCÊ, pode ter abordado a pessoa errada. Então levante-se. Okay. Nada desse lado. Nada do outro lado. Uma ficha, a ficha está na mão. Mas pra quem eu vou ligar? Para a polícia! Não! Eles já não vieram uma vez... Então para os bombeiros. Ah é! Boa essa, eles chegam e você nem está ferida... Você pode fingir-se de presa... Presa dentro da cabine telefônica: “Sim, Sr. Bombeiro, eu estive aqui dentro por duas horas... Sou meio claustrofóbica, foi um horror. Pensei até em cortar meus pulsos e sair de forma alternativa...” Não, não seja tão dramática.
---Duas fichas. Você não terá muito tempo. Disque um número a esmo, então... Não. Podem não levar a sério. Então é isso, vou ficar com os bombeiros. A melhor opção, os bombeiros... Ah! Vão fazer um escarcéu! Se o homem escutar as sirenes, pode chegar aqui ainda mais rápido que os bombeiros. Então não adianta... É melhor abaixar-se e passar o resto da noite aqui. E se alguém quiser telefonar? Ora! Tranque a cabine por dentro. Pronto.
--- Agora durma. Ah! Não vou conseguir dormir, depois dessa descarga abissal de adrenalina... Pensando bem, estou com as pernas cansadas... Corri tanto! (Então se eu encostar minha cabeça assim... Que desconforto!) Então ele não virá. Se eu não fizer barulho ele não virá... Ahhh! Shhh! Não fale nada, deite um pouquinho. Esquece do homem, ele tinha bigode? Sim... Acho que ele tinha um bigode, o maior bigode do mundo! Ele montava a cavalo e eu corria no túnel... Ahhh! Que túnel, mulher? Está maluca? Não. É sono. Então durma... Durma... Ele não te descobrirá aqui... Shhhh.
---Batida. Batida. É alguém lá fora. Fique quieta. Meu deus, é o homem? Não! Fique quieta, volte a dormir...
---“- Atchim!” Que foi isso?? Alguém passou lá fora e espirrou, acalme-se, volte a dormir...
--- Ah, luz. São que horas? Seis... É, acho que já estou segura agora, vou sair.

Um comentário:

André Soares disse...

Que legal!
Darias uma boa escritora de suspense policial! Muito bom!
Lembrou-me " Os elefantes n�o esquecem" de Agatha Christie!
Muito parecido esse clima de agita�o, de necessidade de pensamento r�pido!
vou dizer-te, realmente gostei muito!!
Voc� tem muito talento com as palavras!